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"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

terça-feira, 16 de julho de 2013

Politiquices...

Como o Júdice explicou na Primeira Via, somos um "espaço onde se pretende valorizar a livre crítica e as ideias próprias, fundamentadas na matriz ideológica de cada um, abrindo espaço ao contraditório."  Assim, depois de ter lido as publicações de ambos os meus companheiros de blog (De Gaspar a CavacoA Golpada Intelectual), achei que ainda tinha algo a acrescentar sobre o tema.

Antes de mais, um parêntesis: agradecer aos leitores que participaram na nossa sondagem, que revelou que quem nos segue concorda com a intervenção do Presidente da República (seja pela via tecnocrata, seja pela via política) na formação de um novo governo (24 dos 49 votos obtidos). Esperemos que esta "iniciativa" seja a primeira de muitas.

Quanto aos desenvolvimentos políticos das últimas semanas, creio que existem vários pontos que merecem destaque, a saber:

1) A ser verdade que Vítor Gaspar pediu a demissão após ter sido insultado, juntamente com a sua família, num supermercado junto à sua residência, condeno quem o insultou, porque independentemente da posição política/ideológica/social de cada um, esta é uma das atitudes que deve ser transversalmente condenada. Assim, nunca uma democracia pode evoluir.

2) Acho que o governo e o país saem a perder com a troca nas Finanças, Gaspar dava maiores garantias que Albuquerque, principalmente depois do caso "Swaps".

3) Aplaudo de pé a atitude do CDS perante Portas, mostrando-lhe que o tempo em que PP era sinónimo de "Partido do Portas" acabou e que o CDS é agora muito mais do que Portas e que deixou de se submeter às suas "birras". O CDS deixa assim de se centrar numa figura e passou a ser um partido "a sério", do mesmo modo que cada vez se posiciona mais ao centro, entre PS e PSD.

4) Cavaco dirigiu-se ao país, pediu eleições para o "pós-Troika", com acordo de Salvação Nacional entre PSD, CDS e PS (quem assinou o memorando). Concordo plenamente que Cavaco deixe de fora BE e PCP: quem não quer ter o trabalho de semear, também não pode colher os frutos.

5) Cavaco leu bem a situação e a necessidade de um acordo alargado. A meu ver, escolheu mal o timming. Salvação Nacional era necessária para fazer cumprir o memorando, não depois de ele estar cumprido e o difícil estar feito. Além de que, a haver eleições, PSD e CDS serão penalizados por 3 anos de memorando (as eleições serão daqui a um ano), enquanto que o PS (e a restante esquerda) tem tudo a ganhar com o desgaste do governo.

6) Cavaco deveria ter feito mais uma exigência aos partidos: mudarem de liderança. O PSD pelo desgaste de Passos, o CDS pela birra de Portas e o PS pela incapacidade de Seguro. Se me pedissem 3 nomes, seriam Paulo Rangel (já que Rio passa a vida a dizer que não), Nuno Melo (para mim o sucessor natural de Portas, desde à muito) e António Costa (desta vez Portugal fala mais alto que a Câmara de Lisboa).

7) Falta saber quem liderará este governo de Salvação Nacional, quem ganhar as eleições ou alguém da confiança do Presidente da República (político ou tecnocrata). Esta última é mais complicada de gerir, porque em 2016, Cavaco Silva deixa Belém e o próximo PR (quem quer que venha a ser) pode retirar a confiança ao líder do governo (que não teria legitimidade política - o resultado das eleições - para se manter à frente do governo).

8) Temos um governo que "se encontra na plenitude das suas funções", mas que sabe que tem um prazo de validade inferior ao que os eleitores lhe deram. O que vai ser dele?

9) Se esta solução cavaquista resultar, coloca-se outra questão: até que ponto uma mudança de regime (parlamentarista para presidencialista) pode evitar alguns dos problemas institucionais que temos tido ao longo dos anos e ajudar a resolução dos problemas do país?

Assim, com o tempo teremos todas as respostas a estas questões. Espero que o apelo do PR seja ouvido e que se coloque o superior interesse nacional acima das disputas partidárias.

2 comentários:

  1. Concordo plenamente com tudo, apenas o ponto 6 me suscita algumas dúvidas, pois não acho que seja muito democrático um Presidente influenciar a estrutura dos Partidos. Por outro lado, se demonstrasse essa intenção dificilmente Portas, Passos e Seguro eram capazes de mostrar a abertura que agora estão a mostrar.

    rascunhospoliticos.blogspot.com

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    1. Caro Filipe,
      Concordo com o argumento de que essa condição (de mudança na liderança dos partidos) coloque, de algum modo, em causa a democracia que envolve as lides partidárias. No entanto, parece-me óbvio que nenhum destes três actores políticos tem a capacidade e a credibilidade necessárias para liderar os destinos do país num momento crucial, daí que uma mudança faça todo o sentido.
      Como referi no post, creio que esta solução deveria ter sido tomada aquando da chegada da Troika (e não à saída), mas de qualquer modo parece-me que Cavaco Silva irá indicar um Primeiro Ministro neutro (e da sua confiança) aquando das ditas eleições, o que relegará qualquer líder partidário para um segundo plano (no que respeita ao governo), no papel de Ministro de Estado. Nessa eventualidade, a mudança (ou não) de líderes partidários será um tanto ou quanto residual, não afectando gravemente o governo.

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