A actual caótica-ridícula-obnóxia-cómica situação política
só tem paralelo nas novelas mexicanas e do defeso futebolístico, que vendem centenas
de milhares de jornais temáticos.
No meio do corrupio de
"comentadores" e "debates" a estas actualidades, aparece volta
e meia uma (pouca) gente que diz coisas com cabeça e outra que lançam piadas
(com graça) sobre o assunto. E neste campo o Inimigo Público dá 10 a 0 a todos.
Ontem, então, fomos surpreendidos
com um golpe palaciano, até o primeiro-ministro, diz ele, ficou de boca
aberta. "Portas
deixa governo e assina pelo PS por quatro épocas", podia ler-se.
Para quem não o conhece, Paulo
Portas é um ala-direito veterano, que joga por antecipação, muito mais
inteligente do que a média dos jogadores, com grande visão de jogo, capaz de pautar
o seu ritmo ao sabor das conveniências e com grande qualidade de passa-culpas.
Ataca e defende, ora na direcção da baliza do PS, ora na direcção da do PSD,
conforme dá jeito. É o género de jogador que se atira para a piscina quando
algum adversário lhe toca e, mesmo quando é ele a cometer falta, queixa-se ao
árbitro, dizendo que a culpa foi do outro.
Desta vez, o matreiro jogador
viu-se novamente envolvido em polémica. Joga desde há 2 anos no PSD, embora
diga que só assinou por eles porque não havia outra escolha. Tinha contrato por
mais 2 anos, mas entretanto alegou que não o consultaram na remodelação do
plantel. Vai daí, rompe o contrato e assina pelo PS, principal adversário,
presumivelmente para os 4 anos seguintes a contar do início da próxima época.
Por seu lado, o PSD sente-se
prejudicado no “negócio”, porque fica de mãos a abanar. Diz que o próprio
jogador aceitou os moldes dessa remodelação.
O treinador, cada vez mais
assobiado pelos adeptos e sem autoridade no balneário, veio dizer que o
veterano jogador não se vai embora coisa nenhuma, porque senão a equipa fica
sem asa direita (dos 11 jogadores, há mais 2 que seguirão o caminho do dito
fulano).
O presidente do clube, longe de
ser consensual entre os sócios, tem o dever de zelar pela estabilidade da
equipa, é cobarde e acha agora que o problema não é com ele e que a equipa até
não jogou mal nos dois últimos anos e os jogadores dão-se todos bem.
A situação chegou a um impasse.
Ou o presidente chama a si a responsabilidade de despedir o treinador e ir
buscar um novo com os jogadores que tem. Ou decide mudar tudo, inclusive o
plantel. Ou apela à equipa para que os jogadores se entendam com o treinador.
Os adversários, já se sabe, não
estão disponíveis para ajudar e fazem figas para que o clube seja implodido. Ganham
todos com isso, a começar pelo principal deles, o PS, que reforça o seu plantel
e tudo com a instabilidade do clube.
A questão que agora se põe é:
como é que o treinador vai lidar com 1/3 da equipa que se quer ir embora para o
PS? Que autoridade terá ele para os conduzir no futuro? Se é contestado pelos
adeptos, terá condições para ganhar alguma coisa no clube sem que lhe
"façam a cama" todos os dias?
Passam horas infindáveis de
"análises" à situação e um sem-número de "comentadores"
vive à conta destes episódios.
A metáfora é esclarecedora e a
situação assustadoramente parecida.
A "única" diferença é
que no futebol ganham-se e perdem-se jogos, a tristeza dos adeptos em caso de
derrota dura só até ao dia seguinte e estas coisas do mercado de transferências
até têm graça de se assistir e entretêm um Verão sem campeonato. Por seu lado,
a política joga com o futuro dos próprios
"adeptos"/"sócios", ganham-se e perdem-se empregos e
qualidade de vida de gerações inteiras e é a reputação do "clube" e o
bem-estar das suas famílias que sai afectada.
Há gente que teima em não
perceber esta diferença, a começar por estes "políticos da bola".
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