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"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Políticos da bola

A actual caótica-ridícula-obnóxia-cómica situação política só tem paralelo nas novelas mexicanas e do defeso futebolístico, que vendem centenas de milhares de jornais temáticos.
No meio do corrupio de "comentadores" e "debates" a estas actualidades, aparece volta e meia uma (pouca) gente que diz coisas com cabeça e outra que lançam piadas (com graça) sobre o assunto. E neste campo o Inimigo Público dá 10 a 0 a todos.
Ontem, então, fomos surpreendidos com um golpe palaciano, até o primeiro-ministro, diz ele, ficou de boca aberta. "Portas deixa governo e assina pelo PS por quatro épocas", podia ler-se.
 
Nos extremos da desgraça

Para quem não o conhece, Paulo Portas é um ala-direito veterano, que joga por antecipação, muito mais inteligente do que a média dos jogadores, com grande visão de jogo, capaz de pautar o seu ritmo ao sabor das conveniências e com grande qualidade de passa-culpas. Ataca e defende, ora na direcção da baliza do PS, ora na direcção da do PSD, conforme dá jeito. É o género de jogador que se atira para a piscina quando algum adversário lhe toca e, mesmo quando é ele a cometer falta, queixa-se ao árbitro, dizendo que a culpa foi do outro.
Desta vez, o matreiro jogador viu-se novamente envolvido em polémica. Joga desde há 2 anos no PSD, embora diga que só assinou por eles porque não havia outra escolha. Tinha contrato por mais 2 anos, mas entretanto alegou que não o consultaram na remodelação do plantel. Vai daí, rompe o contrato e assina pelo PS, principal adversário, presumivelmente para os 4 anos seguintes a contar do início da próxima época.
Por seu lado, o PSD sente-se prejudicado no “negócio”, porque fica de mãos a abanar. Diz que o próprio jogador aceitou os moldes dessa remodelação.
O treinador, cada vez mais assobiado pelos adeptos e sem autoridade no balneário, veio dizer que o veterano jogador não se vai embora coisa nenhuma, porque senão a equipa fica sem asa direita (dos 11 jogadores, há mais 2 que seguirão o caminho do dito fulano).
O presidente do clube, longe de ser consensual entre os sócios, tem o dever de zelar pela estabilidade da equipa, é cobarde e acha agora que o problema não é com ele e que a equipa até não jogou mal nos dois últimos anos e os jogadores dão-se todos bem.
A situação chegou a um impasse. Ou o presidente chama a si a responsabilidade de despedir o treinador e ir buscar um novo com os jogadores que tem. Ou decide mudar tudo, inclusive o plantel. Ou apela à equipa para que os jogadores se entendam com o treinador.
Os adversários, já se sabe, não estão disponíveis para ajudar e fazem figas para que o clube seja implodido. Ganham todos com isso, a começar pelo principal deles, o PS, que reforça o seu plantel e tudo com a instabilidade do clube.
A questão que agora se põe é: como é que o treinador vai lidar com 1/3 da equipa que se quer ir embora para o PS? Que autoridade terá ele para os conduzir no futuro? Se é contestado pelos adeptos, terá condições para ganhar alguma coisa no clube sem que lhe "façam a cama" todos os dias?
Passam horas infindáveis de "análises" à situação e um sem-número de "comentadores" vive à conta destes episódios.

A metáfora é esclarecedora e a situação assustadoramente parecida.
A "única" diferença é que no futebol ganham-se e perdem-se jogos, a tristeza dos adeptos em caso de derrota dura só até ao dia seguinte e estas coisas do mercado de transferências até têm graça de se assistir e entretêm um Verão sem campeonato. Por seu lado, a política joga com o futuro dos próprios "adeptos"/"sócios", ganham-se e perdem-se empregos e qualidade de vida de gerações inteiras e é a reputação do "clube" e o bem-estar das suas famílias que sai afectada.

Há gente que teima em não perceber esta diferença, a começar por estes "políticos da bola".

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