O que ensina o latim...

"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Não sou uma galinha

Este país presta-se a D. Sebastiões.
O fulano farmacêutico voltou de Paris, menos de 2 anos depois de ter sido escorraçado em urnas. Poder-se-ia pensar que regressaria mais instruído e civilizado. Qual quê! Com um ar mais arrogante e mentiroso que nunca, doentia postura narcisista e uma intragável dose de auto-elogio e vitimização, a insana criatura reapareceu perante o país. Visto e revisto por 1,6 milhões de gente.
Espectáculo tristíssimo, que demonstra bem a via de sub-desenvolvimento que estamos a trilhar.

(Belo texto de António Borges de Carvalho sobre o tema)

Abro a minha boca de espanto ao perceber o saudosismo que esta inenarrável alma cultivou sobre si na comunidade.
Talvez não seja tão esquisito assim: afinal, se até o Salazar ganhou, já bem entrado neste século, a distinção para "maior português de sempre", porque é que Sócrates, com tão ou mais brilhante obra e hombridade, não haveria de ser lembrado por todos?



Muito vejo por aí que “ele foi o melhor primeiro-ministro que Portugal já teve” ou que, numa perspectiva menos floreada, “ele tinha boas ideias, não soube foi aplicá-las”. Parece que, do pé para a mão, tudo esquecemos. Esta nação enlouqueceu!
Então um tipo que nunca seria ninguém senão fizesse carreira nas jotas, trocando pelo percurso as tintas alaranjadas pelas rosas. (Miguel Relvas, olha quem!)
Um tipo com uma licenciatura em engenharia às três pancadas, de vão-de-escada, domingueira, numa universidade hoje extinta, com contornos de corrupção, ou no mínimo de especial favor (o que não foi inédito na sua vida).
Um tipo que, para início de “profissão”, assinou projectos que nunca desenhou.
Um tipo que, uma vez ministro do ambiente (cargo para o qual estava mais que habilitado), esteve envolvido num caso gravíssimo de suborno (e outras questões de incúria na co-incineração), nunca se prestando ao esclarecedor depoimento.
Um tipo que, candidato a primeiro-ministro, prometeu mundos e fundos (o que foi a coisa mais honrosa que fez na carreira), desde empregos a computadores para todos.
Um tipo que, eleito primeiro de nós, não só não cumpriu o que prometeu, como foi mestre da mentira, do show-off e do regabofe.
Um tipo que, em vésperas de legislativas e autárquicas, ocultou 3 vezes o valor do défice público estipulado, tendo no mesmo ano aumentado a prole de funcionários do estado em 3% e baixado o IVA para “relançar a economia”.
Um tipo cujas amizades eram/são tão nobres como as de Jorge Coelho, Armando Vara, Paulo Campos, João Galamba, Mário Lino, Manuel Pinho, M.ª Lurdes Rodrigues, Santos Silva, Ben Ali, Kadhafi, J. E. dos Santos, Chávez ou Teodoro Obiang, (Terá ido aos funerais de alguns destes?)
Um tipo recordista na interposição de queixas por “difamação e ofensa à honra” (como se tal tipo tivesse honra), embora notoriamente das criaturas mais hostis para jornalistas e menos democráticas que se possa encontrar nesta democracia.
Um tipo que montou uma teia de controlo dos media, chegando ao ponto de mover influências junto do governo socialista espanhol para que grupos de comunicação social ligados ao PSOE comprassem a TVI, usando para isso toda a capacidade de decisão do Estado em empresas particulares como a PT.
Um tipo que, mesmo com tanta fome por “criar empregos” e “estimular a economia”, conseguiu deixar um rasto de desemprego que não tem desculpa (porque supostamente a receita o evitaria).
Um tipo que, no meio disto tudo, deixou por pagar o dobro da dívida pública que encontrou, por opção “ideológica”, entre os quais a bela conta do Magalhães, ParqueEscolar, fundações, estradas, “plano tecnológico”, energias renováveis, PPP's, etc..
Um tipo que, por ingenuidade e comodismo vindos de Belém, teve sempre liberdade para fazer o que quisesse, fez tudo para desperdiçar toda a guarda presidencial que recebeu para os seus crimes.
Um tipo que, sendo do mais mal-criado que se possa ser para os adversários, e não gozando de maioria absoluta parlamentar, que viu dois orçamentos seus aprovados (tendo desrespeitosamente andado a ziguezaguear na aliança no último deles) e 3 PEC’s rapidamente emendados também deixados passar no Parlamento, pode-se queixar de não lhe terem aprovado o PEC IV?
Um tipo que, a contragosto de tudo o que lhe foi recomendado (até por seus ministros próximos), adiou o pedido de assistência à troika, quando era visível que Portugal não aguentaria mais, sob pena de não haver salários, cereais, nem papel higiénico para ninguém.
Tal como li de António L. de Castro de fins de 2011, Sócrates “eleva a aldrabice a uma arte. Além de mentiroso compulsivo, tem aquele dom só ao alcance dos grandes canastrões, de mentir com o ar mais sério do mundo. Conseguiu aldrabar toda a sua vida. É um virtuoso”.

Depois disto tudo, um tipo destes merece que 1,6 milhões de pessoas o estejam a ouvir/idolatrar, ou antes que tais gentes exijam que no mínimo ele nunca mais lhes apareça à frente, ou que no máximo seja julgado e condenado?

Por isto, é-me inconcebível a passadeira vermelha que estenderam a tão sinistro indivíduo. E mais escandaloso é termos uma RTP, paga por todos a peso de ouro, não só a prestar-se a este bonito serviço, como a regozijar-se por tão valioso feito.
Este episódio ilustra ainda o défice de preparação dos entrevistadores que temos, incapazes de contrariar tamanha má-criação e trapaça.

Enquanto intervir, farei para que os esquecidos avivem a sua memória e os ignorantes saibam disto. Nunca me esquecerei. Porque até provem contrário, a minha memória é humana, e não de galinha.


PS: Este contraditor regista igualmente o enorme despudor da gente socialista em geral, e da cúpula soarista em particular (representante maior da ordem maçónica vigente), que, a despeito de todos os crimes contra a solvência nacional, não se abstêm de palpites e reclamações (algumas delas atentatórias para a democracia que dizem ter construído).