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"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

terça-feira, 5 de março de 2013

Pedro Leão, a Europa e o Euro - Parte II

Ora, no artigo anterior vimos que a emigração não é capaz de normalizar o desemprego pela Europa, porque enfrenta fortes bloqueios linguísticos e culturais. Qual é a resposta que o Prof. Pedro Leão propõe para este problema?

Bem, a principal causa para o aumento do desemprego em Portugal é uma acentuada quebra na procura.

Numa economia aberta, se ocorrer uma redução na procura interna, então a procura dirigida a empresas internas ressente-se, assim como as importações. Se começarmos numa situação de pleno emprego e de balança corrente nula, então no fim chegamos a uma situação de desemprego excessivo e de balança corrente positiva. Perante esta situação, um Banco Central desce a taxa de juro, de modo a estimular a procura interna e externa, através do aumento do consumo, investimento e exportações, porque a taxa de câmbio tende a descer com a taxa de juro.

Mas o BCE não vai ajustar a taxa de juro para o nível o nível adequado de um único país em particular. A taxa de juro afecta todos os países da União, e de momento a Europa corre a duas velocidades. Temos um Sul com níveis históricos de desemprego e um Norte com pleno emprego. Numa situação destas, é muito difícil ter uma política monetária eficaz.

No caso português, a nossa procura externa tem sofrido ao longo da última década e meia por duas razões:
  • a China tem competido com sectores tradicionalmente portugueses: têxteis e calçados, além das máquinas eléctricas;
  • o alargamento a leste da União, desviou investimento directo estrangeiro para essa região, que passou a competir connosco nos automóveis e também nas máquinas eléctricas.
Durante a apresentação, o Prof. afirmou que Portugal não recebe um único investimento directo estrangeiro significativo há 20 anos, o que contrasta com a Eslováquia, que recebe uns 6% do PIB em IDE há vários anos e muito dele no sector da exportação.

Caso Portugal estivesse fora da eurozona, então a sua moeda já podia depreciar. Assim já não é preciso insistir na apelidada "desvalorização interna", porque esse ajuste é feito na taxa de câmbio e não nos preços e salários internos. Com isto, os investimentos em Portugal tornam-se mais atractivos e as exportações portuguesas mais competitivas. Consequentemente, o PIB e o emprego portugueses regressariam a par e passo ao nível de pleno emprego.

Contudo, avisou, que tal como no caso da Argentina, os primeiros anos a seguir à saída do euro seriam caóticos, pelo que as coisas ficariam piores antes de melhorarem. E que tal como a Argentina, Portugal redenominaria a sua dívida em escudos, pelo que só pagaria uns 50% desta, mas que a União Europeia podia intervir e pagar a diferença por nós. Ou não.

Ele terminou com «E é por esta razão, que cada vez mais penso que Portugal devia sair do euro...»


Artigo seguinte desta série: Pedro Leão, a Europa e o Euro - Parte III